6 de setembro de 2016

Talvez

“Talvez seja tempo de voltar a sofrer”, pensei. Mas depois, passados breves instantes, apercebi-me que talvez nunca devesse ter parado de sofrer, isso sim. Foi então, que logo de seguida, concluí que não tinha parado, nunca tinha parado. Sofria, desde a primeira memória, desde o primeiro instante, mesmo que me tivesse habituado de tal forma à dor que acabei por me esquecer dela. Até agora…

A dor sobre que escrevo, esta dor sufocante que me aperta o peito e me faz tremer as mãos à medida que redijo estas palavras, é minha, é total e inequivocamente minha. É minha no sentir, é minha nas razões que a suportam, é minha nas lágrimas que me poderiam assolar a face. Não choro. Aprendi a suportar, a fazer-me forte, a aguentá-las dentro de mim.

Já acreditei que gostava disto, desta dor. Acreditei que precisava disto para escrever. E talvez precise. Talvez seja a isto que estou destinado: a ver a felicidade, quase senti-la e acabar destroçado. “Talvez seja melhor assim”, tento convencer-me. Mas como pode ser melhor? Não pode.

Recordo-me do eu que existiu em tempos idos. Será que ele aguentaria como este eu agora aguenta? Não creio. E isso faz-me sorrir, um sorriso triste, mas um sorriso. Cresci. Será que este crescimento justifica toda a dor? “Tenho que encontrar uma qualquer justificação para isto, para esta dor. Não pode ser apenas dor…” E não é. Não é apenas dor. É vida…

29 de junho de 2016

Às mulheres

Hoje escrevo-vos. A ti, ex-mulher da minha vida, e a ti, mulher da minha vida. Escrevo-vos às duas simultaneamente porque vos vou escrever sobre mim. E porque vou escrever sobre algo que vos diz respeito a ambas: amor.

Amei-vos. Sim, é passado. Amei-vos com todas as minhas forças, sofri por não vos ter ou por ter medo de vos perder, mas sofri. O meu amor por vós foi imensurável, ao ponto de deixar de sentir o mundo para vos sentir a vocês, para nos sentir a nós. Hoje, tanto tempo depois de vos ter começado a amar, concluo que não vos amo mais.

Apercebo-me que o amor, aquilo que me movia em tempos, já não tem nada a ver com aquilo que hoje representa. Aquilo que me fazia sonhar, querer-vos a meu lado, aquilo que vos tornava únicas… morreu. E concluo isto agora mesmo, enquanto vos escrevo esta carta. A ti, ex-mulher da minha vida, sempre tive medo de não te ter mostrado suficientemente o quanto te amava. A ti, mulher da minha vida, sempre te amei sem sequer saber quem eras. Mas a base desse amor, disso que me consumia, era o medo. De perder, de não ter.

E amor é medo. É a não indiferença, o não ser capaz de não pensar. E aquilo que eu sinto já não é mais que indiferença. Ex-mulher da minha vida, sê feliz. Se nunca mais te vir na vida? Seja. Não me és essencial, essa é a verdade. E tu, mulher da minha vida, provavelmente nem sequer existes. Se existires, provavelmente nunca sequer te vou encontrar. E… seja. Perco eu e perdes tu. Mas a vida é mais que tu, portanto…

19 de junho de 2016

Um aperto

Apertar-te, sem limites, sem meias medidas. Apertar-te até ficares sem ar, até teres que me apertar de volta para eu perceber que tenho que te soltar um pouco. Apertar-te e parar o mundo que continua a girar à nossa volta. E entre um aperto e outro, sussurrar. Sussurrar-te ao ouvido o quanto aquele aperto significa, mesmo sabendo que serei incapaz de o traduzir em palavras. Dizer-te o quanto te quero a meu lado, o quanto gosto de ti. E mais importante que tudo, mostrar-te o que te digo. Mostrar-te que não és a pessoa que mais importa, és a única. Mostrar-te que és a primeira e a última a receber aquele aperto daquela forma.


É isto. Aquilo a que uns chamam destino, eu trato pelo teu nome. Por seres tu o meu presente, o meu futuro, o meu ser. Por não precisar de procurar mais nada em lado nenhum. Por saber que tu és o mundo no qual devo viver, o mundo que eu procurei durante tanto tempo. E por isto, aperto-te. A cada segundo em que o possa fazer, até muito para além do momento em que as forças me faltarem. Apertar-te-ei.

9 de maio de 2016

Falsa Coragem

Parei. Tentei lembrar-me de alguma coisa, por muito insignificante que parecesse, que me desse força para continuar a avançar… mas não encontrei nada. Tentei então encontrar uma razão, qualquer uma, que me mostrasse que valia a pena lutar… mas mais uma vez com nada me deparei. Foi então que percebi que aquilo era o que eu tinha que fazer: tinha de parar.

Fechei os olhos e fui absorvido pela paz que a escuridão sempre me deu, fui absorvido por um mundo muito melhor que aquele em que habitava. E nesse mundo surgiste tu, primeiro um vulto quase imperceptível, depois uma sombra com contornos de pessoa, e por fim, a perfeição. Perante mim estava tudo aquilo que tinha procurado mal parei, estava toda a força para continuar e todas as razões para lutar. E foi então que dei um passo decidido, sem medo de obstáculos, sem medo do futuro. E depois desse passo dei outro, e outro, e assim foi até que de repente abri os olhos. Não os queria abrir, mas foi uma acção que o meu corpo decidiu tomar sem pedir autorização ao meu cérebro. Estava no mesmo sítio, exactamente no mesmo sítio… e não fazia sentido.

Fechei novamente os olhos e dei por mim a caminhar de mãos dadas contigo. Estávamos calados, mas o sorriso que partilhávamos revelava mais que quaisquer palavras que possam ser ditas. Estávamos felizes. Parámos e sentamo-nos num banco, julgo que estávamos num jardim, mas para ser sincero nem sequer me dei conta da paisagem. Abracei-te e tu respondeste-me com um beijo leve, tão leve, mas que eu senti tanto. Fixei-te o olhar e soube, sem o mínimo resíduo de dúvida, que nunca me tinha sentido tão feliz como naquele preciso momento.

Mais uma vez não consegui evitar, e abri os olhos. Dei com o meu corpo parado no mesmo sítio. A felicidade que me tinha preenchido era agora apenas uma réstia, algo tão fraco que nem um sorriso me provocava. Tentei perceber porque é que não estavas ali, porque é que quando abri os olhos não te tinha nos braços e porque é que me sentia tão terrivelmente abandonado. Foi então que percebi.

A coragem que tinha quando fechava os olhos era a única coragem que possuía. Na vida real, o meu único acto de bravura, se é que o era, passava por parar e fechar os olhos, fugir do mundo imperfeito em que vivia e ir para um outro mundo em que era capaz de lutar por aquilo que queria, de lutar por ti. Nesse mundo não tinha medo que me virasses as costas, não tinha medo de entregar todos os meus segredos a alguém, não tinha medo de amar. Esse era, e continuaria a ser, o único mundo em que queria viver.

Então parei, fechei os olhos e entreguei-te esta carta. Tu sorriste, um sorriso sincero, e disseste-me que se eu tivesse feito aquilo na vida real, tu estarias ali, estarias realmente ali, junto a mim...

18 de março de 2016

À mulher da minha vida #11

Hoje quero escrever-te sobre mim, sobre aquilo que sou e acima de tudo sobre aquilo em que me tornaste. Hoje quero escrever-te sobre o quanto significas, sobre o quanto te quero, sobre o quanto acredito num "nós". Hoje, mais que nos outros dias, quero escrever-te.

Sempre acreditei no amor e foi por isso que escrevi tanto ao longo dos anos. Também foi por isso que sofri, que deprimi e que este blogue acabou por nascer. Se queres que te diga, não sei quando te criei. Talvez naquele tempo em que acreditava em almas gémeas e em que acreditava que te ia encontrar inesperadamente no meio da rua, os nossos olhos se iam cruzar e pronto, daríamos conta do nosso amor.

“Naquele tempo” porque já não acredito nisso, apesar de não ter deixado de acreditar no amor. Com o passar dos anos a ideia que tinha do amor foi-se modificando, chegando então àquilo em que hoje acredito. E tu, com a tua insistência em não surgir na minha vida, és a grande responsável por essa mudança.

Antes achava que amor era silêncio, era paz, era segurança. Achava que o amor era assim, calmo, certo, sério. Era então envelhecer com alguém, ser feliz a seu lado e dar as mãos nos momentos bons e menos bons. Era compartilhar a vida.

Agora não é assim que o vejo. Amor é nunca deixar de estar apaixonado. É loucura, é vício, é sexo. Amor é desejo, é raiva, é ruído. E não é o amor que forma um casal. É o casal que forma o amor. Se é perfeito? Claro que não. Mas quem é que precisa de perfeição quando tem tudo o que o amor traz?

Bem, e sabes porque te escrevo tanto sobre o amor hoje? Porque chegou a hora de te deixar ir. Quero-te e vou continuar a querer-te, mas esta é a última carta que te escrevo. Agradeço-te por tudo e prometo-te que quando te voltar a escrever, irei iniciar essa carta com o teu nome.

7 de fevereiro de 2016

O dia em que a deixei de ter

Fomos felizes. Depois de tudo o que passámos, esta foi a maior conclusão. E a mais relevante. Nos sorrisos, nas lágrimas, nos abraços e nas confidências, fomos sempre felizes. Fomos nós mesmos, fomos crus, puros, verdadeiros. Fomos um só sem nunca perder aquilo que nos tornava únicos. Fomos… Até ao dia em que percebi que a tinha perdido. Até ao dia em que tudo deixou de fazer sentido.

Ela era tanto, era-me tanto. E eu sempre o soube. Perdi-a, mas sempre soube que não a podia perder. Sempre a tratei como se ela fosse a mais especial de todas as mulheres. Sempre lhe mostrei o quanto a amava, mesmo sem precisar de pronunciar a palavra. E eu sei que ela o sentia. A cada olhar, a cada abraço, a cada beijo. Sei que ela se sentiu, em todos os momentos que partilhámos, feliz por me ter a seu lado.

E é por isto que não consigo aguentar. Não percebo. Não quero compreender. Porque é que a perdi? Porque é que não a posso ter aqui agora e continuar a mostrar-lhe o quanto a amo? Porque é que aquilo que tínhamos tinha que terminar tão repentinamente?

Mas continuo a amá-la. Vou amá-la sempre. Ela não foi, ela é. E será sempre. Já eu… eu fui. Fui enquanto a tinha a meu lado, enquanto lhe pude mostrar diariamente o que ela significava. Agora já não sou. A minha vida era ela, era o seu sorriso, era o seu olhar. Eu fui, todos os dias, quando lhe beijava suavemente os lábios para a despertar… Até ao dia em que ela não despertou…

22 de janeiro de 2016

À mulher da minha vida #10

Tem-me sido difícil, cada vez mais difícil, escrever-te. Custa-me fazer isto: fechar-me em mim mesmo escrevendo para alguém que não lê as minhas palavras, fechar-me por alguém que provavelmente nunca vai surgir. E sabes o que me tem custado mais? É a noção da minha incapacidade. Sou incapaz de te procurar, de fazer qualquer esforço que me possa colocar no teu caminho. Sou incapaz de acreditar.
 
Tu podes ser uma das dezenas de raparigas com que me cruzo diariamente, podes ser aquela rapariga que me sorriu ocasionalmente, podes ser aquela com que troquei olhares no meio da rua. Posso até já me ter cruzado contigo mais que uma vez, no entanto fui sempre incapaz de fazer algo mais. E por isso deixei-te escapar.
 
E então pergunto-me, em mais uma das tantas desculpas que insisto em procurar para não ser feliz, se estou preparado para te encontrar, quando na verdade ainda nem a mim me encontrei. Pergunto-me se em vez de te escrever estas cartas, não deveria escrever para mim mesmo. Pergunto-me se isto, esta dor que sinto ao te escrever, é mais do que uma maldição à qual estou condenado.
 
E chego à conclusão que tenho que começar de novo. Que tenho que fugir, deixando tudo e todos para trás, e ter um novo início. Mesmo que esse início apenas me conduza a outro e outro, sucessivamente. E concluo que este blogue continua a fazer-me mal… como sempre fez.
 

1 de janeiro de 2016

À mulher de 2015

Ficaste para trás. Mais uma vez. És agora parte do passado, sem nunca sequer teres “sido”. És, novamente, uma memória sem rosto num ano que marcaste. E agora, com o final de 2015, voltas a ser o que foste… mesmo que não o sejas.

É tempo de te agradecer novamente, como tantas vezes tenho feito. Por existires na minha vida, mesmo que não faças parte dela. Por estares a meu lado, mesmo não estando. Ajudaste-me a crescer, a continuar o meu caminho e fizeste com que hoje me possa continuar a sentir orgulhoso da pessoa que sou.

Podes ser uma miragem, não passares de um conceito que acabei por criar numa das noites em que te escrevia sem ainda saber de ti, podes nem ser real. Mas és aquilo que significas. És uma parte de mim e és provavelmente a minha melhor parte.

Mas ficaste para trás. Marcaste 2015 e não vieste comigo para 2016. Sabia que seria assim e não me custa que tenha partido para um novo ano sem ti. Porque sabes, mesmo sendo tanto, tu tinhas que ter ficado para trás. Tinhas que ceder o teu lugar.

Agora é a vez da mulher de 2016 me acompanhar. Ela é como tu: absolutamente perfeita com as suas imperfeições. E tal como tu, ela só existe aqui, no Noites de Utopia. Minto. Ela existe também aqui, no meu peito, onde tu manterás o teu espaço e onde guardarei as recordações nossas que não tenho. Obrigado.

29 de dezembro de 2015

À mulher da minha vida #9

Na última carta que te escrevi expliquei-te o porquê de me ter vindo a afastar de ti ultimamente, deixando claro que os meus sentimentos por ti não mudaram. Aliás, dificilmente algum dia os meus sentimentos por ti irão mudar. Como já te escrevi várias vezes, a tua significância na minha vida é demasiado grande para se alterar, mesmo que nunca surjas no mundo real.

Mas hoje, na última das cartas que te vou escrever este ano, decidi que tinha mais para te escrever, algo novo e que nunca transpareci em nenhum dos textos que te dirigi. Esse algo surge no seguimento de um parágrafo de uma das minhas cartas, que transcrevo:

“E é por isso que queria agir: queria abraçar-te e sussurrar-te ao ouvido o quanto te amo, queria acariciar-te o rosto e entrelaçar as minhas mãos nas tuas. Queria mexer-te no cabelo, surpreender-te com um carinho, tocar-te. Queria fazer-te rir até as lágrimas te começarem a escorrer pela face, queria fazer-te perder noção das horas, fazer-te feliz.”

Porque sabes, os meus sentimentos não mudaram… mas algo mudou. Pela primeira vez desde que te criei sinto que tenho que fugir, tenho que te virar as costas, tenho que ir para longe. Simplesmente, acho que mesmo que aparecesses, eu não te mereceria. Acho que talvez seja este o meu fado: procurar-te e quando te sentir próxima… fugir. É como se não quisesse ser feliz nem sequer arriscar sê-lo.

Eu sei que não faz sentido… mas alguma coisa nesta história o faz? Faz sentido ter-te criado e ter-te escrito tanto, sem sequer saber se algum dia serás real? Faz sentido que, se existires mesmo, te mantenhas afastada de mim em vez de estares a meu lado? Não sei… Nunca soube… Mas preciso de fugir…

3 de dezembro de 2015

Uma carta para a Morte

Hoje, pela primeira vez, escrevo-te a ti, Morte. Antes de tudo, deixa-me dizer-te que te respeito e que sempre te compreendi. Percebo a tua função neste mundo, percebo que tenhas simplesmente de ser, percebo-te. O que não compreendo é o facto de pareceres alimentar-te do sofrimento dos que partem, como se o sofrimento dos que ficam não te fosse suficiente.

Hoje, fizeste-me chorar. Aliás, és tu a responsável pelas lágrimas que neste momento me escorrem pelo rosto. Eu até sou forte e costumo ser capaz de me controlar, mas a tua força atingiu-me de tal forma que me deixou sem capacidade de o fazer.

E acho injusto, muito injusto. Acho injusto que não o tenhas simplesmente levado, em paz, para um lugar melhor. Acho injusto que tenhas feito sofrer o Homem que tanto passou durante a vida. Podias tê-lo feito de forma diferente, devias tê-lo feito porra! Fazias-me sofrer a mim, fazias sofrer todos os que o amavam… isso devia bastar-te.

Levaste-o e eu estou aqui, do outro lado do continente. Em vez de estar lá, junto aos meus, a apoiá-los e a fingir-me forte. E é isto que me revolta mais. Revolta-me ser inútil, não poder fazer nada e estar aqui, a chorar, como se algo isso valesse.

Restam-me as muitas memórias, o seu sorriso da última vez em que o vi e em que me despedi por vir novamente para a Roménia. Resta-me o nome que carrego e resta-me honrar o seu legado. E resta-me isto, a escrita que lhe corria nas veias e que agora corre nas minhas.

Hoje, dia 3 de dezembro, levaste o meu avô…