3 de dezembro de 2015

Uma carta para a Morte

Hoje, pela primeira vez, escrevo-te a ti, Morte. Antes de tudo, deixa-me dizer-te que te respeito e que sempre te compreendi. Percebo a tua função neste mundo, percebo que tenhas simplesmente de ser, percebo-te. O que não compreendo é o facto de pareceres alimentar-te do sofrimento dos que partem, como se o sofrimento dos que ficam não te fosse suficiente.

Hoje, fizeste-me chorar. Aliás, és tu a responsável pelas lágrimas que neste momento me escorrem pelo rosto. Eu até sou forte e costumo ser capaz de me controlar, mas a tua força atingiu-me de tal forma que me deixou sem capacidade de o fazer.

E acho injusto, muito injusto. Acho injusto que não o tenhas simplesmente levado, em paz, para um lugar melhor. Acho injusto que tenhas feito sofrer o Homem que tanto passou durante a vida. Podias tê-lo feito de forma diferente, devias tê-lo feito porra! Fazias-me sofrer a mim, fazias sofrer todos os que o amavam… isso devia bastar-te.

Levaste-o e eu estou aqui, do outro lado do continente. Em vez de estar lá, junto aos meus, a apoiá-los e a fingir-me forte. E é isto que me revolta mais. Revolta-me ser inútil, não poder fazer nada e estar aqui, a chorar, como se algo isso valesse.

Restam-me as muitas memórias, o seu sorriso da última vez em que o vi e em que me despedi por vir novamente para a Roménia. Resta-me o nome que carrego e resta-me honrar o seu legado. E resta-me isto, a escrita que lhe corria nas veias e que agora corre nas minhas.

Hoje, dia 3 de dezembro, levaste o meu avô…

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