Hoje, pela
primeira vez, escrevo-te a ti, Morte. Antes de tudo, deixa-me dizer-te que te
respeito e que sempre te compreendi. Percebo a tua função neste mundo, percebo
que tenhas simplesmente de ser, percebo-te. O que não compreendo é o facto de
pareceres alimentar-te do sofrimento dos que partem, como se o sofrimento dos
que ficam não te fosse suficiente.
Hoje, fizeste-me
chorar. Aliás, és tu a responsável pelas lágrimas que neste momento me escorrem
pelo rosto. Eu até sou forte e costumo ser capaz de me controlar, mas a tua
força atingiu-me de tal forma que me deixou sem capacidade de o fazer.
E acho injusto,
muito injusto. Acho injusto que não o tenhas simplesmente levado, em paz, para
um lugar melhor. Acho injusto que tenhas feito sofrer o Homem que tanto passou
durante a vida. Podias tê-lo feito de forma diferente, devias tê-lo feito
porra! Fazias-me sofrer a mim, fazias sofrer todos os que o amavam… isso devia
bastar-te.
Levaste-o e eu
estou aqui, do outro lado do continente. Em vez de estar lá, junto aos meus, a
apoiá-los e a fingir-me forte. E é isto que me revolta mais. Revolta-me ser
inútil, não poder fazer nada e estar aqui, a chorar, como se algo isso valesse.
Restam-me as
muitas memórias, o seu sorriso da última vez em que o vi e em que me despedi por
vir novamente para a Roménia. Resta-me o nome que carrego e resta-me honrar o
seu legado. E resta-me isto, a escrita que lhe corria nas veias e que agora
corre nas minhas.
Hoje, dia 3 de dezembro, levaste o meu avô…
Hoje, dia 3 de dezembro, levaste o meu avô…
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