22 de agosto de 2010

Lágrimas

Prendo as lágrimas que teimam em se querer soltar. Prendo-as por ver nelas apenas mais uma etapa para a minha fragilização total, no entanto se eu as libertasse talvez diminuísse o peso que suporto, talvez se atenuasse a dor que me consome. E talvez seja por estes “talvez” que teimo em segurá-las para assim não correr o risco de ver o meu sofrimento desaparecer e conseguir finalmente atirar para trás das costas tudo aquilo que me proíbe de dar um passo em frente e seguir procurando a minha felicidade.
Felicidade. Essa é outra das coisas de que eu teimo em me afastar, talvez por me não achar merecedor dela, talvez por ter medo de ser feliz. E talvez seja por este último “talvez” que quando sinto que estou bem, realmente bem, tenho que fazer desabar o meu mundo para depois suportar a agonia que é tentar reconstrui-lo, segurando lágrimas que se prendem agora por um quase invisível fio, demasiado frágil para aguentar para sempre os gritos de dor que um dia, infelizmente, serão libertados.

20 de agosto de 2010

Papel principal

Num palco onde caminho solitário
Não existe sequer uma plateia
É um palco esquecido, sem vida,
Onde apenas se acumula poeira
E onde eu cumprirei meu calvário.

Mas outrora houve ali felicidade,
Houve pessoas que me queriam ver
Não por mim, seja dita verdade,
Mas eram elas que me faziam viver.

Nesse tempo tu estavas a meu lado,
Nesse tempo eu tinha algo para dar,
Hoje sinto-me apenas esgotado,
Sou o ninguém que não pára de chorar.

E neste palco em que se representa tanto mal,
Um dia foi teu o maior papel, o papel principal…

19 de agosto de 2010

Vem

Aproxima-te.
Lê o que te escrevo.
Deixa-me tocar-te.
Deixa-me abraçar-te.
Não tenhas medo.
Aproxima-te.

Fecha os olhos e vem.
Esquece o passado.
Entrega-te a mim.
Deixa a tristeza de lado.

Vem.
Alcança a felicidade.
Abandona a maldade.
Sente a sinceridade.
Vem.

10 de agosto de 2010

Carta a um amor secreto n.25

Esta é a vigésima quinta carta que te escrevo e por esta altura deveria já sentir que te disse tudo o que devia…não sinto. Foram vinte e quatro cartas em que me deixei guiar pelo coração, em que as palavras se sucederam sem que eu tivesse sequer planeado uma ordem para elas. Comecei todas essas cartas sem fazer ideia de como elas iam acabar. Hoje, pela primeira vez, começo uma carta sabendo desde logo o seu final.
Durante muito tempo tentei compreender o amor, tentei arranjar uma explicação para todas as sensações que ele provoca, tentei justificá-lo. Ao longo das cartas que te escrevi percebi que não é isso que devo fazer. Em vez de procurar compreender o que sinto, devo limitar-me a honrar esse sentimento. Tu deste-me isso, deste-me a possibilidade de revelar aquilo que me consome, deste-me a possibilidade de tentar fazer com que aquilo que sinto por ti se materialize em algo bom, em algo verdadeiro, em algo sincero.
E sabes do que mais me orgulho? É que fiz tudo isto por ti, por ti que nem sequer existes. Criei-te por precisar de ti e agora dou-me conta que antes de te ter criado tu me criaste a mim. Sim, tu és a responsável por aquilo que sou, és a responsável pelos meus sonhos, pelas minhas utopias, pelos meus medos e ambições. És a responsável pelo início das minhas palavras, pelas lágrimas que me escorreram pelo rosto e pelos raros mas genuínos sorrisos que libertei. Hoje liberto um desses sorrisos e marco com uma lágrima esta carta, a última que te escrevo.
Mas esta carta não é o fim, nunca nenhuma carta o será. Apenas começa agora o silêncio que um dia tu vais romper, quando finalmente surgires na minha vida.
A ti, meu amor secreto, até sempre.

1 de agosto de 2010

Adormece-me

Envolve-me nos teus braços por favor,
Acaricia-me e faz-me tudo esquecer,
Fecha-me os olhos e deixa-me descansar,
Aperta-me e faz com que deixe de sofrer,
Beija-me e revela-me o teu amor.

Vamos partir para um outro mundo,
Vamos fugir deste mundo de dor,
Vamos fechar os olhos e sonhar,
Vamos viajar seja para onde for,
Vamos imortalizar este amor profundo.

E para isto só tens de me adormecer,
Fazer-me abandonar esta realidade
Para finalmente poder sorrir a teu lado,
E por isso te peço de verdade:
Beija-me e deixa-me morrer.