Parei. Tentei lembrar-me de
alguma coisa, por muito insignificante que parecesse, que me desse força para
continuar a avançar… mas não encontrei nada. Tentei então encontrar uma razão,
qualquer uma, que me mostrasse que valia a pena lutar… mas mais uma vez com
nada me deparei. Foi então que percebi que aquilo era o que eu tinha que fazer:
tinha de parar.
Fechei os olhos e fui absorvido
pela paz que a escuridão sempre me deu, fui absorvido por um mundo muito melhor
que aquele em que habitava. E nesse mundo surgiste tu, primeiro um vulto quase
imperceptível, depois uma sombra com contornos de pessoa, e por fim, a
perfeição. Perante mim estava tudo aquilo que tinha procurado mal parei, estava
toda a força para continuar e todas as razões para lutar. E foi então que dei
um passo decidido, sem medo de obstáculos, sem medo do futuro. E depois desse
passo dei outro, e outro, e assim foi até que de repente abri os olhos. Não os
queria abrir, mas foi uma acção que o meu corpo decidiu tomar sem pedir
autorização ao meu cérebro. Estava no mesmo sítio, exactamente no mesmo sítio…
e não fazia sentido.
Fechei novamente os olhos e dei
por mim a caminhar de mãos dadas contigo. Estávamos calados, mas o sorriso que
partilhávamos revelava mais que quaisquer palavras que possam ser ditas.
Estávamos felizes. Parámos e sentamo-nos num banco, julgo que estávamos num
jardim, mas para ser sincero nem sequer me dei conta da paisagem. Abracei-te e
tu respondeste-me com um beijo leve, tão leve, mas que eu senti tanto. Fixei-te
o olhar e soube, sem o mínimo resíduo de dúvida, que nunca me tinha sentido tão
feliz como naquele preciso momento.
Mais uma vez não consegui evitar,
e abri os olhos. Dei com o meu corpo parado no mesmo sítio. A felicidade que me
tinha preenchido era agora apenas uma réstia, algo tão fraco que nem um sorriso
me provocava. Tentei perceber porque é que não estavas ali, porque é que quando
abri os olhos não te tinha nos braços e porque é que me sentia tão
terrivelmente abandonado. Foi então que percebi.
A coragem que tinha quando
fechava os olhos era a única coragem que possuía. Na vida real, o meu único
acto de bravura, se é que o era, passava por parar e fechar os olhos, fugir do
mundo imperfeito em que vivia e ir para um outro mundo em que era capaz de
lutar por aquilo que queria, de lutar por ti. Nesse mundo não tinha medo que me
virasses as costas, não tinha medo de entregar todos os meus segredos a alguém,
não tinha medo de amar. Esse era, e continuaria a ser, o único mundo em que
queria viver.
Então parei, fechei os olhos e entreguei-te esta carta. Tu sorriste, um sorriso sincero, e disseste-me que se eu tivesse feito aquilo na vida real, tu estarias ali, estarias realmente ali, junto a mim...
Então parei, fechei os olhos e entreguei-te esta carta. Tu sorriste, um sorriso sincero, e disseste-me que se eu tivesse feito aquilo na vida real, tu estarias ali, estarias realmente ali, junto a mim...